quinta-feira, 2 de abril de 2009

A paixão colorada de Rogério Ramos

Cruzeiro. Lages. Aliados. Atlético. União Operária. Vasco da Gama. O futebol lageano conheceu muitos times desde que a pelota de couro começou a rolar às margens do rio Carahá, do começo da década de 20, até os clássicos no Areião de Copacabana, em meados dos anos 50. Porém, por mais que fossem vitoriosos ou apadrinhados por abastados comerciantes, os clubes não sobreviviam ao passar dos anos. Fechavam as portas até se transformar em vagas lembranças. Acontecia com todos. Todos, menos um. Um time de camisas vermelhas atravessaria as décadas movido pela paixão teimosa de seus seguidores.

O fato decisivo para evitar o fim do futebol colorado em 1955 aconteceu cinco anos antes, nas dependências do Grupo Escolar Vidal Ramos, quando o menino Rogério Ramos ganhou uma bola de futebol em um sorteio. E graças à persistência de Rogério, a bola virou um time, e o time virou uma paixão. Nasceu ali o vitorioso esquadrão juvenil do Esporte Clube Internacional.

As despesas do time – jogo de camisas, chuteiras para quem não tinha e lanche para comemorar as muitas vitórias – eram suportadas por uma economia feita por Rogério. Depois da escola, o jovem colorado trabalhava em um dos postos de seu pai, Tito Varela Ramos, e acumulava moedas que acabavam por constituir um fundo de incentivo ao time que era imbatível nas manhãs dominicais no campinho dos padres.

Plínio, ainda como goleiro, e Rogério Ramos em 1951

Era um time formado por amigos e colegas de estudo, mas Rogério não deixava de fortalecer o time com outros atletas. Assim foi que ao lado dele e de Plínio Maines, Antônio Celso Melegari, Áureo Malinverni e Aujor Branco de Moraes, perfilava o habilidoso Pinto, filho do coveiro Firmino, que chegou desconfiado daqueles meninos que se vestiam melhor e levavam os estudos a sério, mas que se entrosou assim que bola falou a língua universal do futebol.

O tamanho daqueles meninos franzinos era denunciado pelo diminutivo dos nomes Zequinha, Julinho, Laurinho. Logo a liga organizou um campeonato para a piazada e o Coloradinho foi campeão. Bicampeão, aliás. E invicto. As canelas finas se apoiavam em pés habilidosos e matreiros. Eles tinham em média treze anos quando passaram a representar o time de aspirantes do Inter. E foram novamente bicampeões.

Por trás daquele time unido e quase imbatível, estava a força de seu capitão Rogério Ramos, que marcava os jogos, organizava os treinos, pagava os lanches festivos e se entregava de corpo e alma quando a bola rolava. Mais do que um time vitorioso, os juvenis do Inter formaram um grupo de amigos que se reúne até hoje para relembrar os tempos de campo dos padres e Areião de Copacabana.

Tudo isso já seria o suficiente para orgulhar Rogério Ramos e seus companheiros. Mas em 1955, quando eles ainda eram aspirantes, os jogadores do time profissional do Inter abandonaram o clube em busca de melhores salários. Sem dinheiro, cogitou-se acabar com o Internacional. O que restava à diretoria era recorrer aos ex-juvenis e então aspirantes, para ao menos entrar em campo. Eles toparam, e mais do que isso, jogaram de igual pra igual contra os fortes times de Aliados, Vasco e Lages.

Rogério e Aujor em 2009: lembranças de um Inter guerreiro e vitorioso

Graças à valentia daqueles meninos o Internacional sobreviveu para ser campeão municipal, regional e estadual. Por isso nunca é demais recordar que o time campeão de 1965 só existiu porque os juvenis estavam lá quando o Internacional mais precisou de quem amasse aquelas camisas vermelhas. Que Setembrino é precedido por Aujor, assim como Zé Melo por Plínio, Jones por Melegari, Bin por Zequinha, Kuki por Laurinho. E que se nesses 60 anos de história o Inter desenvolveu o dom de superar as dificuldades, muito se deve ao ato de coragem e paixão colorada de Rogério Ramos. Obrigado, grande capitão.

2 comentários:

Paula Clarice disse...

"As canelas finas se apoiavam em pés habilidosos e matreiros" - que figura de linguagem mais linda! adorei, como sempre adoro teu texto. Um beijo!

Adalberto Day disse...

Mauricio
Mais um belo conto, sobre as histórias do futebol lageano. Como é importante principalmente para a juventude poder reviver através de seu blog, esses momentos marcantes da história de muita gente que merece destaque.
Adalberto Day de Blumenau