Pelo que me lembro, quem começou a chamar o próprio da municipalidade de Tio Vida foi o bravo Souza Filho, no microfone da bravíssima Rádio Clube, em 1995. Bom, ao menos foi quando eu ouvi pela primeira vez, e caiu no gosto da galera. Dizia-se assim: - Daê, beleza? Vamos tomar umas geladas no Guairacá e depois 'bora' pro Tio Vida? Então bora pro Tio Vida, pra ver Inter, LEC, CAL e até uma breve ressurreição do Guarani.
Quando eu comecei a freqüentar o estádio - fim dos anos 70 e mais assiduamente a partir dos 80 - não havia a cobertura na arquibancada atrás do gol da rua Humberto de Campos. Cobertura mesmo só nas sociais, que chamávamos de pavilhão, com entrada pela Jairo Luís Ramos. Todo o resto era geral, com sol na cara ou chuva no lombo. Em 2003 construiu-se a arquibancada maior, ou pavilhão novo, inaugurado em 2004, mudando a posição das cabines de imprensa.
Mas tergiverso, como diz o Inagaki. Este post é sobre o estádio que antecedeu o Tio Vida, oficialmente chamado de estádio municipal do bairro Copacabana, mas que ficou conhecido como Areião de Copacabana. Ficava ali onde hoje quedam as ruínas do Vermelhão, e o campo de jogo era na mesma posição do campo do Vermelhão.
Era Areião porque grama mesmo tinha muito pouco, uns tímidos montinhos verdes espalhados em meio à terra batida. Mas era o nosso estádio, e ali jogavam entre si nos anos 50 Aliados, Inter, Vasco e União Operária. Era uma praça de esportes simples, o que não impediu que fosse palco de grandes momentos. Ali o Inter enfrentou o Cruzeiro de Porto Alegre e o Flamengo de Caxias. Em 1953, com o acanhado pavilhão de madeira superlotado, o Aliados foi eliminado do estadual pelo Carlos Renaux de Teixeirinha. Muita gente boa ralou seus joelhos no Areião, como Áureo Malinverni e Osvaldo Brandão.
(Hein? Osvaldo Brandão? Aham, ele mesmo, mas essa é outra história)
Em 1954 a prefeitura entregou um novo estádio, chamado à época de estádio da Ponte Grande, depois Vidal Ramos Júnior, o Tio Vida. O Areião ficou para trás, recebendo jogos do campeonato varzeano, até que o município o repassou ao Internacional e ali foi erguido o Vermelhão.
Não vou falar do Vermelhão hoje. Está em pedaços. Sobrou apenas a velha arquibancada atrás do gol à esquerda das cabines de rádio. Bem no centro, acima, ainda está o painel de concreto onde se encaixava o placar. Às vezes vou até lá, subo a arquibancada, me sento à sombra da árvore e fico em silêncio olhando o campo. Imagino como aquilo era nos tempos do Areião. Clássicos municipais, muita rivalidade e a cidade unida através da bola. Histórias que o tempo engoliu, e que pretendo trazer à tona no livro do Inter, para que não se diga que o que restou de tanta paixão são essas ruínas aí debaixo.