O Joaçaba vencia por 1x0. O filme da perda da Copa Santa Catarina para o Araranguá oito anos antes passava na cabeça dos doze mil colorados espremidos no Tio Vida. Chovia, para aumentar o drama. Chovia, porque choveu muito nos 60 anos de história do Inter. Era o dia 9 de julho de 2000 e eu realmente cheguei a duvidar que pudéssemos empatar o jogo.
Como corria, o Joaçaba. Mauro Ovelha estava em pele de leão. Dava balão, catimbava, pressionava Bozzaninho. O goleiro Adalberto parecia intransponível. E pior, a bola não chegava em Kuki. O preparador físico Roni disse que no intervalo Kuki entrou no vestiário chutando a porta: - Porra, Tonho! Eu tô de preto, por acaso? Eu tô de terno e gravata, pra não me passarem a bola? Eu quero a bola, cacete!
Tonho Gil, o técnico, sabia que a bola precisava chegar no artilheiro. O Joaçaba é que não deixava, menos ainda quando achou o seu gol no começo do segundo tempo, que agora já ia além da metade. Falta para o Inter, de longe. Kuki chutou por fora da barreira, a bola estava entrando no canto esquerdo quando apareceu Adalberto, espalmando para escanteio. No meio da chuva o Vidal Ramos murmurou: - Uuuuuuuhhhh...
Outra falta para o Inter. Mais perto, um pouco antes da meia-lua. São vinte e nove minutos. Um pouco atrás de mim ouvi o velho artilheiro Puskas dizer ao Zezé: - É agora, é nossa. Kuki correu para a bola. Antes do chute, estranhamente seu companheiro Wagner Gaúcho levou às mãos à cabeça. Kuki chutou. O goleiro Adalberto ameaçou tomar o rumo do canto esquerdo, como na falta anterior. Quando viu a bola passando por cima da barreira, em curva, rumo ao canto direito, já era tarde. Saltou em branco. Bola na rede.
Foi a maior explosão que eu vi no Tio Vida. Kuki correu em direção à torcida que fica no canto do ginásio Ivo Silveira. Olhei para trás, Zezé e Puskas estavam abraçados, Antônio Armindo estava em pé na cabine da Clube gritando gol de peito aberto. O velho pavilhão balançava, um raio de sol teimoso furava uma nuvem pesada e eu queria poder parar o tempo, porque percebi que aquele era um momento raro, a esparsa alegria que justifica todo o sofrimento. Contra a lama, contra Mauro Ovelha, contra o Bozzaninho que não marcara um pênalti escandaloso e contra a minha descrença, o Inter se parecia com aquele teimoso raio de sol. Contra tudo e contra todos, estava brilhando para ser campeão.
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Este é um trecho que ainda não decidi se vai para o livro ou não. Mas quer relembrar o golaço de Kuki? Veja hoje o programa O Goleador, na TV Araucária, às 22:30. Na minha coluna eu mostro o vídeo do gol, com a emocionante narração de Antônio Armindo.
Passe também no blog do Vilson Benthien, o Colorado Lageano e leia a entrevista com Kuki. Aí embaixo, para matar um pouco da saudade, o gol do título filmado de trás do gol.
Mauricio
ResponderExcluirGrande Kuki. Adorei este teu texto e principalmente o filme do Golaço do Kuki. Como é bom relembrar essas maravilhas do nosso futebol, e o mais importante, falar do teu grande Colorado.
Parabéns por nos brindar com mais essa bela postagem
Adalberto Day Cientista social e pesquisador da história em Blumenau
Que show o texto.. Que show a lembrança..
ResponderExcluirabraço Mau
Eu evito ficar elogiando porque sei que sou suspeita, mas achei linda mesmo a primeira foto. Casou perfeitamente com o "clima" do texto, Mau. Muito bom, muito bom mesmo. Um beijo :o**
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